Mio cuore










Mio cuore
Nélio Bessant
Quando a maca empurrou a primeira porta do Pronto Socorro, eu me dei conta que estava mal, muito mal. O lençol branco que cobria meu corpo dolorido estava muito manchado pelo sangue
que eu perdia.Ouvi, ainda que meio longe, o burburinho causado entre médicos e enfermeiras, pela chegada da maca que me transportava. Afinal, a ambulância chegara ao hospital com a sirene ligada a todo volume, como exigia a urgência do caso.
O transportado estava à beira da morte. Sangrava muito e a hemorragia não dava sinais de querer parar. E era eu, ali, a me esvair em sangue...
Mais tarde vim a saber que os especialistas - Drs. Johnnie & Walker, não poderiam me atender pois estavam em outra festa - digo, outra emergência. Na ausência daqueles especialistas em problemas de , quem se dispôs a cuidar do meu caso foi outro médico, mais jovem, com apenas oito anos de envelhecimento, ou melhor, de formatura: Dr. Ballantine's

O Dr. 'Bala' (como o chamam os mais íntimos), além do atendimento de urgência urgentíssima que o caso requeria, usou de outras técnicas modernas e reparadoras para tratar de . Empregou uma sutura líquida que deixou 'mio cuore' quase novo, embora com visíveis cicatrizes.
Resumindo bastante a estória para não ser enfadonho: receitou-me, como único remédio, a música; lenitivo capaz de afastar o tédio do dia-a-dia e combater com eficácia, a depressão que pode se instalar no paciente em casos semelhantes, como diz a crônica médica.
Posso afirmar que saí renovado desse 'affair'. Ainda doía, é verdade... Mas já não sangrava.
Ontem à tarde, após receber um telefonema tão esperado nos últimos dias, notei que o bolso esquerdo de minha camisa azul-claro, estava avermelhado. Era sangue... Acho que a cicatriz se abriu... Mas se for por você, juro que vale a dor. Vou até a farmácia mais próxima, compro uma caixinha de band-aid, canto uma canção em tom maior e tento resolver tudo sozinho.
Afinal, meu plano de saúde não cobre recaídas...